quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O CAMALEÃO DO PAU-OCO autoria de Martha Lívia Volpe Orlov


O CAMALEÃO DO PAU-OCO              autoria de  Martha Lívia Volpe Orlov


No ano passado, em setembro ganhei um grande presente: 
meu neto Luca. A ele dedico esta estória


      Curumim mora na floresta.

         Na floresta também mora o Camaleão e todos os outros bichos.

         - Que beleza esta nossa floresta, exclama o Curumim.

         - Árvores tão grandes, folhas verdinhas, sombra fresca nos dias de calor, completa o Camaleão.

     - Um cheirinho gostoso de ar puro, perfume de mato, continua o Camaleão.

         Curumim já nasceu na floresta, ele é um indiozinho, que tem amizade com quase todos os bichos, inclusive o Camaleão.

         Seus pais, seus avós são os donos deste pedaço de terra onde moram.

         Uma manhã Curumim passeava na mata, estava quase chegando na casa do Camaleão, quando viu o homem branco passando.

         - Preciso avisar o Camaleão!  pensou Curumim.

         Mas não deu tempo. O homem branco já estava muito perto. E foi naquele dia que ele viu o que se passou entre o homem branco, um caçador, e o Camaleão do pau-oco.

         O Camaleão é um bichinho especial, um tipo um pouco esquisito, com uma linguona de um palmo e meio. Fica o dia inteiro laçando mosquitos com a língua.

Camaleão brinca de esconde-esconde o dia inteiro, porque vira da cor do lugar onde ele está. Assim: se está no tronco da árvore, vira marrom, se está nas folhas verdes vira verde. Pura mágica!

         Curumim viu e depois contou para os outros meninos e meninas da tribo como foi que o Camaleão começou a mudar de cor.

         Foi assim: naquele dia Camaleão estava dentro do pau-oco, dormindo, quando ouviu um barulho muito diferente daqueles que ele conhecia na floresta da empuca, onde mora.

         Camaleão e Curumim conhecem bem a empuca onde moram, a mata dos lados dos rios do Pantanal.

         E você conhece a floresta?

         Curumim conhece também os cerrados, os campos e varjões, pedacinhos diferentes da mata do Pantanal.

         Naquele dia o Camaleão ficou cismado com um barulhinho estranho que vinha da empuca:

         - Que será que está acontecendo?

         Naquele tempo ele era ainda de uma só cor. Tirou a cabeça do pau-oco e o que ele viu?

         - Nossa, um caçador, exclamou assustado.

         O caçador era um bicho branquelo, diferente dos curumins; estava logo na sua frente e Camaleão levou tal susto que mudou a cor, ficou marrom como o pau-oco onde ele estava.

 Camaleão não se deu conta do que aconteceu, mas o caçador passou o não o viu.

         - O que está acontecendo com nosso amigo Camaleão, pensou Curumim que escondido,  via tudo.

         Camaleão ficou assustado e com muito medo, mas a curiosidade era maior e muito cuidadoso, devagar para não fazer nenhum barulho, foi seguindo o caçador por detrás das moitinhas, dos galhos caídos.

         Mais assustado ficou o Curumim quando o Camaleão saiu de sua toca e a cada passinho que dava trocava de cor.

         Mas o caçador não era bobo e como todos os bons caçadores tinha o ouvido bem treinado para os menores ruídos da floresta:

         - Tem bicho me seguindo, pensava o caçador, prestando muita atenção.

         E o Camaleão sempre atrás do caçador. Apesar de todo o cuidado, sempre fazia algum barulhinho.

         Atrás do Camaleão seguia o Curumim, carregando sua flecha prontinha no arco, para defender o amigo:

         - Preciso cuidar do meu amigo, pensava Curumim.

         O caçador que ia atento, virava-se rápido para trás, quando escutava qualquer pequeno barulhinho.

         Nestas alturas Curumim tinha subido na árvore mais alta e de lá percebia tudo o que se passava.

         Mas o Camaleão que era teimoso e curioso ficava sempre bem perto do caçador.

         Quando este se virava, não dava tempo de fugir e o Camaleão na mesma hora trocava de cor, ficava do tom das folhas murchas da moitinha onde estava.

          Curumim de cima da árvore, também trocou de cor, ficou verde, mas de mentirinha, verde de medo.

         - Que esperteza do amigo Camaleão!  Dizia baixinho Curumim.

         O caçador naquele dia não conseguiu enxergar nem entender nada e muito cismado continuou sua caminhada, pensando:

         - Que barulhinho estranho, até parece minha sombra; quando eu ando ele aparece, quando eu paro ele pára.

         - Homem branco tão boboca, nem consegue me enxergar, pensava Camaleão.

         Caçador continuou andando mas cismado nos barulhinhos que continuavam. Parou de novo e olhou e todos os lados. Tnha bicho por perto, mas ele não descobria onde.

         Mas o Camaleão já havia descoberto o truque e mudava depressa a cor, quando trocava de lugar: virava verdinho como a folhagem onde estava, ou escurinho como os troncos caídos.

         Caçador parava, Camaleão virava. Caçador olhava, Camaleão disfarçava.

         Curumim aflito de lá de cima da árvore via tudo, e pensava:

         - Que safadeza!  Mas bem que estou gostando do truque do Camaleão.

         O caçador parava, procurava:

         - Estou ficando velho, não descubro o bicho mas o barulhinho continua!

         Assim o caçador se cansou, distraiu-se dos outros bichos e naquele dia não matou nenhum.

         O Camaleão ficou satisfeito de ter conhecido o homem branco e conseguir tapeá-lo para se defender, aprendendo a mudar de cor.

         Quando o caçador foi embora, Curumim correu para conversar com Camaleão, mas este estava cansado e voltou para o pau-oco e dormiu.

         Depois foi ensinar os outros camaleões a mudarem de cor. Hoje todos os camaleões da floresta sabem mudar de cor, misturando-se com a cor do lugar onde estão.

         Curumim voltou para sua taba admirado da esperteza do Camaleão e contou a estória para todos.

         E o caçador está cismado até hoje, tentando descobrir o misterioso barulhinho da floresta.

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