O CAMALEÃO DO PAU-OCO autoria de Martha Lívia Volpe Orlov
No ano passado, em setembro ganhei um grande presente:
meu neto Luca. A ele dedico esta estória
Curumim mora na floresta.
meu neto Luca. A ele dedico esta estória
Curumim mora na floresta.
Na floresta também mora o Camaleão e
todos os outros bichos.
- Que beleza esta nossa floresta,
exclama o Curumim.
- Árvores tão grandes, folhas
verdinhas, sombra fresca nos dias de calor, completa o Camaleão.
- Um cheirinho gostoso de ar puro,
perfume de mato, continua o Camaleão.
Curumim já nasceu na floresta, ele é um
indiozinho, que tem amizade com quase todos os bichos, inclusive o Camaleão.
Seus pais, seus avós são os donos deste
pedaço de terra onde moram.
Uma manhã Curumim passeava na mata,
estava quase chegando na casa do Camaleão, quando viu o homem branco passando.
- Preciso avisar o Camaleão! pensou Curumim.
Mas não deu tempo. O homem branco já
estava muito perto. E foi naquele dia que ele viu o que se passou entre o homem
branco, um caçador, e o Camaleão do pau-oco.
O Camaleão é um bichinho especial, um
tipo um pouco esquisito, com uma linguona de um palmo e meio. Fica o dia
inteiro laçando mosquitos com a língua.
Camaleão
brinca de esconde-esconde o dia inteiro, porque vira da cor do lugar onde ele
está. Assim: se está no tronco da árvore, vira marrom, se está nas folhas
verdes vira verde. Pura mágica!
Curumim viu e depois contou para os
outros meninos e meninas da tribo como foi que o Camaleão começou a mudar de
cor.
Foi assim: naquele dia Camaleão estava
dentro do pau-oco, dormindo, quando ouviu um barulho muito diferente daqueles
que ele conhecia na floresta da empuca, onde mora.
Camaleão e Curumim conhecem bem a
empuca onde moram, a mata dos lados dos rios do Pantanal.
E você conhece a floresta?
Curumim conhece também os cerrados, os
campos e varjões, pedacinhos diferentes da mata do Pantanal.
Naquele dia o Camaleão ficou cismado
com um barulhinho estranho que vinha da empuca:
- Que será que está acontecendo?
Naquele tempo ele era ainda de uma só
cor. Tirou a cabeça do pau-oco e o que ele viu?
- Nossa, um caçador, exclamou
assustado.
O caçador era um bicho branquelo,
diferente dos curumins; estava logo na sua frente e Camaleão levou tal susto
que mudou a cor, ficou marrom como o pau-oco onde ele estava.
- O que está acontecendo com nosso
amigo Camaleão, pensou Curumim que escondido, via tudo.
Camaleão ficou assustado e com muito
medo, mas a curiosidade era maior e muito cuidadoso, devagar para não fazer
nenhum barulho, foi seguindo o caçador por detrás das moitinhas, dos galhos
caídos.
Mais assustado ficou o Curumim quando o
Camaleão saiu de sua toca e a cada passinho que dava trocava de cor.
Mas o caçador não era bobo e como todos
os bons caçadores tinha o ouvido bem treinado para os menores ruídos da floresta:
- Tem bicho me seguindo, pensava o
caçador, prestando muita atenção.
E o Camaleão sempre atrás do caçador.
Apesar de todo o cuidado, sempre fazia algum barulhinho.
Atrás do Camaleão seguia o Curumim,
carregando sua flecha prontinha no arco, para defender o amigo:
- Preciso cuidar do meu amigo, pensava
Curumim.
O caçador que ia atento, virava-se
rápido para trás, quando escutava qualquer pequeno barulhinho.
Nestas alturas Curumim tinha subido na
árvore mais alta e de lá percebia tudo o que se passava.
Mas o Camaleão que era teimoso e
curioso ficava sempre bem perto do caçador.
Quando este se virava, não dava tempo
de fugir e o Camaleão na mesma hora trocava de cor, ficava do tom das folhas
murchas da moitinha onde estava.
- Que esperteza do amigo Camaleão! Dizia baixinho Curumim.
O caçador naquele dia não conseguiu
enxergar nem entender nada e muito cismado continuou sua caminhada, pensando:
- Que barulhinho estranho, até parece
minha sombra; quando eu ando ele aparece, quando eu paro ele pára.
- Homem branco tão boboca, nem consegue
me enxergar, pensava Camaleão.
Caçador continuou andando mas cismado
nos barulhinhos que continuavam. Parou de novo e olhou e todos os lados. Tnha
bicho por perto, mas ele não descobria onde.
Mas o Camaleão já havia descoberto o
truque e mudava depressa a cor, quando trocava de lugar: virava verdinho como a
folhagem onde estava, ou escurinho como os troncos caídos.
Caçador parava, Camaleão virava.
Caçador olhava, Camaleão disfarçava.
Curumim aflito de lá de cima da árvore
via tudo, e pensava:
- Que safadeza! Mas bem que estou gostando do truque do
Camaleão.
O caçador parava, procurava:
- Estou ficando velho, não descubro o
bicho mas o barulhinho continua!
Assim o caçador se cansou, distraiu-se
dos outros bichos e naquele dia não matou nenhum.
O Camaleão ficou satisfeito de ter
conhecido o homem branco e conseguir tapeá-lo para se defender, aprendendo a
mudar de cor.
Quando o caçador foi embora, Curumim
correu para conversar com Camaleão, mas este estava cansado e voltou para o
pau-oco e dormiu.
Depois foi ensinar os outros camaleões
a mudarem de cor. Hoje todos os camaleões da floresta sabem mudar de cor,
misturando-se com a cor do lugar onde estão.
Curumim voltou para sua taba admirado
da esperteza do Camaleão e contou a estória para todos.
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