sábado, 31 de janeiro de 2015

Eva Furtari: Jabuti de Melhor Ilustração

Relembrando textos antigos mas que dão a dimensão da obra de Eva Furnari (fontes diversas da imprensa brasileira)

Eva Furnari conquista o Jabuti de Melhor Iustração


Anjinho, A Bruxa Zelda e os 80 Docinhos e Truks. Em comum, a autoria de Eva Furnari, a edição da Ática e o 1º lugar no prêmio Jabuti, categoria Melhor Ilustração de Livro Infantil e Juvenil, em 1998, 1995 e 1993, respectivamente.
Coincidência ou não, Cacoete encabeça agora essa lista de sucesso: é mais um livro da autora contemplado com o maior prêmio literário do país. Além do 1º lugar na categoria mencionada, a obra ainda ganhou um troféu pelo 3º lugar como Melhor Livro Infantil.
A história da escritora no Jabuti inclui um 2º lugar em ilustração, no ano de 2004, para O circo da lua.
Eva Furnari nasceu em Roma, na Itália, em 1948. Veio para o Brasil dois anos depois, radicando-se em São Paulo. Desde criança, encantava-se com as figuras dos livros, e sua distração preferida era desenhar e pintar. Formada em arquitetura, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi professora de desenho, pintura, escultura e gravura no Atelier de Artes Plásticas do Museu Lasar Segall.
Trabalhou como ilustradora em diversos jornais e revistas, mas a literatura infantil é sua maior expressão. São inúmeras as suas publicações como ilustradora e escritora, e os prêmios também são muitos. Entre os mais importantes, o Altamente Recomendável, da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), para Bruxinha e as Maldades da Sorumbática, O feitiço do sapo e O circo da lua, e o APCA (da Associação Paulista de Críticos de Arte) pelo conjunto de sua obra.
Instituído pela Câmara Brasileira do Livro desde 1959, o Prêmio Jabuti anunciou os ganhadores de sua 48ª edição no último dia 8. Entre os indicados na primeira fase, estavam, também da Ática, Procura-se Lobo, de Ana Maria Machado (Melhor Livro Infantil), e Descobrindo a História da Arte, de Graça Proença (Melhor Livro Didático ou Paradidático).

Confira os livros de Eva Furnari editados pela Ática:
A Bruxinha e o Gregório     Angelito        Anjinho     Bruxinha e as Maldades da Sorumbática
Mundrackz        O Circo da Lua      O Feitiço do Sapo     O segredo do violinista      Operação Risoto
The Little Guardian Angel        Truks


Infantis: Cacoetes

Assunto:  Contos de fadas modernos     Nível: Ensino Fundamental     Série: 1ª e 2ª

Tema: Pluralidade Cultural  

Cacoete era uma cidade muito organizada. Talvez a mais organizada do mundo. Seus habitantes seguiam certas regras especiais. Quem era alto sentava em cadeira alta, quem era baixo sentava em cadeira baixa, anões de jardim ficavam no guarda-roupa para não tomar chuva...

Todos viviam bem, até que um dia, porém, algo inesperado aconteceu. Frido, um menino da cidade, foi comprar uma maçã para presentear sua professora, e coisas estranhas começaram a acontecer... coisas que mudariam a cidade para sempre...

Prêmio Jabuti 2006 na categoria "Melhor Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil".


Uma boa mostra das qualidades da premiada autora e ilustradora de livros infantis Eva Furnari está em Cacoete, vencedor do prêmio Jabuti 2006 na categoria "Melhor Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil".
Cacoete é nada menos que o nome de uma cidade, provavelmente a mais organizada do mundo. Lá moram 187 habitantes, dispostos todos em ordem alfabética. Os nomes das ruas são alinhados da mesma forma.
"Para se vestir, os cacoetecos tinham regras simples. As mulheres usavam vestidos de bolinha, sempre da mesma cor. Os homens usavam camisas brancas e calças xadrez. No dia-a-dia, seus hábitos e costumes eram bem certinhos. Quem era alto sentava em cadeira alta. Quem era baixo sentava em cadeira baixa", descreve o texto do livro.
Tudo em Cacoete começou a ficar diferente no dia em que um menino da cidade, Frido, foi comprar um presente para sua professora, dona Dora. Presente de Dia dos Professores, em Cacoete, tinha de ser maçã, não podia ser outra coisa.
Comprar uma maçã seria aparentemente fácil para Frido, mas torna-se o motivo do desencadeamento de situações inesperadas, que vão abalar todos os critérios de arrumação dessa cidade tão certinha e previsível.
Acontece que as maçãs estavam em falta na cidade. Frido decide, então, procurar a casa de dona Lúrcia, que vendia lindas maçãs, mas morava um tanto distante. Mas, após errar o itinerário que lhe fora indicado, o menino acaba topando com outra personagem, a bruxa Núrcia.
Núrcia tem um poder especial, o de soltar das suas mãos poderosos raios verdes, de grande efeito desorganizador. Agora, com essa bruxa por perto, Cacoete vai sofrer grandes transformações!


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O CAMALEÃO DO PAU-OCO autoria de Martha Lívia Volpe Orlov


O CAMALEÃO DO PAU-OCO              autoria de  Martha Lívia Volpe Orlov


No ano passado, em setembro ganhei um grande presente: 
meu neto Luca. A ele dedico esta estória


      Curumim mora na floresta.

         Na floresta também mora o Camaleão e todos os outros bichos.

         - Que beleza esta nossa floresta, exclama o Curumim.

         - Árvores tão grandes, folhas verdinhas, sombra fresca nos dias de calor, completa o Camaleão.

     - Um cheirinho gostoso de ar puro, perfume de mato, continua o Camaleão.

         Curumim já nasceu na floresta, ele é um indiozinho, que tem amizade com quase todos os bichos, inclusive o Camaleão.

         Seus pais, seus avós são os donos deste pedaço de terra onde moram.

         Uma manhã Curumim passeava na mata, estava quase chegando na casa do Camaleão, quando viu o homem branco passando.

         - Preciso avisar o Camaleão!  pensou Curumim.

         Mas não deu tempo. O homem branco já estava muito perto. E foi naquele dia que ele viu o que se passou entre o homem branco, um caçador, e o Camaleão do pau-oco.

         O Camaleão é um bichinho especial, um tipo um pouco esquisito, com uma linguona de um palmo e meio. Fica o dia inteiro laçando mosquitos com a língua.

Camaleão brinca de esconde-esconde o dia inteiro, porque vira da cor do lugar onde ele está. Assim: se está no tronco da árvore, vira marrom, se está nas folhas verdes vira verde. Pura mágica!

         Curumim viu e depois contou para os outros meninos e meninas da tribo como foi que o Camaleão começou a mudar de cor.

         Foi assim: naquele dia Camaleão estava dentro do pau-oco, dormindo, quando ouviu um barulho muito diferente daqueles que ele conhecia na floresta da empuca, onde mora.

         Camaleão e Curumim conhecem bem a empuca onde moram, a mata dos lados dos rios do Pantanal.

         E você conhece a floresta?

         Curumim conhece também os cerrados, os campos e varjões, pedacinhos diferentes da mata do Pantanal.

         Naquele dia o Camaleão ficou cismado com um barulhinho estranho que vinha da empuca:

         - Que será que está acontecendo?

         Naquele tempo ele era ainda de uma só cor. Tirou a cabeça do pau-oco e o que ele viu?

         - Nossa, um caçador, exclamou assustado.

         O caçador era um bicho branquelo, diferente dos curumins; estava logo na sua frente e Camaleão levou tal susto que mudou a cor, ficou marrom como o pau-oco onde ele estava.

 Camaleão não se deu conta do que aconteceu, mas o caçador passou o não o viu.

         - O que está acontecendo com nosso amigo Camaleão, pensou Curumim que escondido,  via tudo.

         Camaleão ficou assustado e com muito medo, mas a curiosidade era maior e muito cuidadoso, devagar para não fazer nenhum barulho, foi seguindo o caçador por detrás das moitinhas, dos galhos caídos.

         Mais assustado ficou o Curumim quando o Camaleão saiu de sua toca e a cada passinho que dava trocava de cor.

         Mas o caçador não era bobo e como todos os bons caçadores tinha o ouvido bem treinado para os menores ruídos da floresta:

         - Tem bicho me seguindo, pensava o caçador, prestando muita atenção.

         E o Camaleão sempre atrás do caçador. Apesar de todo o cuidado, sempre fazia algum barulhinho.

         Atrás do Camaleão seguia o Curumim, carregando sua flecha prontinha no arco, para defender o amigo:

         - Preciso cuidar do meu amigo, pensava Curumim.

         O caçador que ia atento, virava-se rápido para trás, quando escutava qualquer pequeno barulhinho.

         Nestas alturas Curumim tinha subido na árvore mais alta e de lá percebia tudo o que se passava.

         Mas o Camaleão que era teimoso e curioso ficava sempre bem perto do caçador.

         Quando este se virava, não dava tempo de fugir e o Camaleão na mesma hora trocava de cor, ficava do tom das folhas murchas da moitinha onde estava.

          Curumim de cima da árvore, também trocou de cor, ficou verde, mas de mentirinha, verde de medo.

         - Que esperteza do amigo Camaleão!  Dizia baixinho Curumim.

         O caçador naquele dia não conseguiu enxergar nem entender nada e muito cismado continuou sua caminhada, pensando:

         - Que barulhinho estranho, até parece minha sombra; quando eu ando ele aparece, quando eu paro ele pára.

         - Homem branco tão boboca, nem consegue me enxergar, pensava Camaleão.

         Caçador continuou andando mas cismado nos barulhinhos que continuavam. Parou de novo e olhou e todos os lados. Tnha bicho por perto, mas ele não descobria onde.

         Mas o Camaleão já havia descoberto o truque e mudava depressa a cor, quando trocava de lugar: virava verdinho como a folhagem onde estava, ou escurinho como os troncos caídos.

         Caçador parava, Camaleão virava. Caçador olhava, Camaleão disfarçava.

         Curumim aflito de lá de cima da árvore via tudo, e pensava:

         - Que safadeza!  Mas bem que estou gostando do truque do Camaleão.

         O caçador parava, procurava:

         - Estou ficando velho, não descubro o bicho mas o barulhinho continua!

         Assim o caçador se cansou, distraiu-se dos outros bichos e naquele dia não matou nenhum.

         O Camaleão ficou satisfeito de ter conhecido o homem branco e conseguir tapeá-lo para se defender, aprendendo a mudar de cor.

         Quando o caçador foi embora, Curumim correu para conversar com Camaleão, mas este estava cansado e voltou para o pau-oco e dormiu.

         Depois foi ensinar os outros camaleões a mudarem de cor. Hoje todos os camaleões da floresta sabem mudar de cor, misturando-se com a cor do lugar onde estão.

         Curumim voltou para sua taba admirado da esperteza do Camaleão e contou a estória para todos.

         E o caçador está cismado até hoje, tentando descobrir o misterioso barulhinho da floresta.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Análise de poemas: "Rômulo rema" de Cecília Meireles

ANÁLISE DE POEMAS: Rômulo Rema, de Cecília Meireles
                                                                                  Martha L.V. Orlov

Se seus alunos são bem pequenos, apenas o ritmo, o lúdico, são suficientes para promover o encantamento, a sedução. Entretanto se forem um pouco maiores os poemas abaixo fornecerão recursos a serem trabalhados. Repare que em todos os três poemas abaixo a letra “R” repete-se , criando um efeito que chamamos de ALITERAÇÃO. Outras consoantes repetem-se em outros poemas como o “L”, em A Rua do Raul, o “M”  em Rômulo Rema, o “D” em Roda na Rua, entre outras consoantes menos evidentes.

            A combinação das vogais que se repetem criam uma certa melodia. A este efeito chamamos ASSONÂNCIA. Verifique no poema “A Lua do Raul”: “Raio de lua/ Luar/ Luar do ar/ azul” . As vogais “A” e “U” repetem-se de uma maneira acentuada, até uma seguida da outra: “lua”, “luar”, “azul”. A autora trabalha, neste poema este efeito de Assonância.

            Os poemas criam cenas que a imaginação das crianças completa. As sugestões de sons e cores são muito importantes. As vezes podemos associar diversos sentidos, como a visão, olfato, paladar, tato e audição. Damos o nome o nome de SINESTESIA a estas associações dos sentidos em um texto.

            Quando uma estrutura sintática se repete, parcial ou inteiramente, temos um PARALELISMO. Exemplo “Rômulo rema no rio”, presente no primeiro, oitavo e último versos do poema “Rômulo rema”.

            Leiamos os poemas de Cecília Meireles: 

A LUA DO RAUL

RÔMULO REMA

RODA NA RUA




Raio de lua.
Rômulo rema no rio.
Roda na rua
Luar
A romã dorme no ramo
a roda do carro
Luar do ar
A romã rubra. ( E o céu.)

azul.

Roda na rua 

O remo abre o rio
a roda das danças
Roda da lua.
O rio murmura

Aro da roda

A roda na rua
na tua rua,
A romã rubra dorme
Rodava no barro
Raul !
Cheia de rubis ( e o céu.).



Na roda da rua
Roda o luar
Rômulo rema no rio.
Rodavam crianças
na rua


Toda
Abre-se a romã.
O carro, na rua.
Azul
Abre-se a manhã.



 

Roda o aro da lua
Rolam rubis rubros do céu

Raul,


a lua tua,
No rio,

a lua da tua rua !
Rômulo rema.

 

A lua do aro azul !



ATIVIDADE:

            Vamos trabalhar juntos em um destes poemas, “Rômulo Rema”:

1.    Verifique que todo um cenário é sugerido. Há indicações temporais, é a noite que dá lugar ao dia: a indicação da noite é dada pela romã que dorme no ramo; a manhã surge com a indicação do fruto, que se abre, como a manhã:  “ abre-se a romã / abre-se a manhã” ( sugestões  visuais e de movimento) .

2.    A sugestão da aurora é dada pela coloração da romã, que é um fruto vermelho, e que, quando maduro, se abre. A coloração vermelha é dada pelo adjetivo “ rubra”. Além desta indicação bem clara, outra sugestão é dada pela pedra preciosa, “rubi”, “ rolam rubis rubros do céu”.

3.    Veja o destaque dado pela fusão imagética; personificações:  “ rio murmura” , “ a romã dorme no ramo” ; “abre-se a manhã”.

4.    Veja o destaque para o paralelismo sintático e rítmico: “Abre-se a romã / abre-se a manhã’ ou “Rômulo rema no rio”. No primeiro caso a estrutura sintática é idêntica, muda-se apenas a palavra manhã por romã; no segundo caso a identidade é perfeita, e como o verso vem isolado das estrofes, pode também ser considerado um “ refrão”, que é um elemento que confere ao texto um aspecto popular.  

5.    A sugestão de movimento percorre o poema, desde o início: “ Rômulo rema no rio”; “o remo abre o rio”; “ abre-se a romã/ abre-se a manhã”; “rolam rubis” .

6.    Note-se a inversão do verso inicial, fechando o poema no verso final: “Rômulo rema no rio” , no início; “ No rio, Rômulo rema”, final.

7.    A personificação: “o rio murmura”, é uma  sugestão auditiva bem clara ( segundo verso, da segunda estrofe).

8.    As repetições da letra “R” ( Aliterações) intensificam a sensação de movimento, sobretudo do “ rolar”, atributo não só das águas do rio, como das cores da aurora no céu, abrindo a manhã.

9.    A melodia é sobretudo causada pela repetição sistemática das vogais ”O” e “U”. secundadas por “A”, “E” e “I”. Trata-se do efeito da assonância. 

10. O ritmo do poema, feito de metros curtos ( ritmos variados, sete sílabas métricas, seis, cinco, etc) , próprios para a duração da respiração infantil, vão sugerindo ao invés de descrever a manhã que se inicia.

11. A ausência de rimas externas não prejudica o poema, porque é criado um conjunto de sonoridades que lhe conferem um todo extremamente harmonioso.

12. A pequena extensão do poema também colabora para este intenso efeito sugestivo.

Estas são algumas sugestões para que você identifique uma verdadeira obra de arte, um poema que merece ser colocado nas melhores antologias. Como você percebeu o trabalho poético não é só inspiração, muita técnica é necessária para criar tantos efeitos e sugestões em um poema tão pequeno.  Leia atentamente os outros dois poemas: “Roda na Rua” e “A Lua do Raul”,  procure identificar efeitos semelhantes.