Duas obras que, segundo meus critérios, são verdadeiras maravilhas da Literatura Infantil: A BOLSA AMARELA de Lygia Bojunga Nunes e BISA BIA,BISA BEL de Ana Maria Machado
A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes, aborda problemas pré-adolescentes comparando pessoas reais e situações verídicas. Uma criança sozinha em um apartamento certamente criará amigos imaginários, histórias com bichos. Mas guardar tudo isto em uma enorme bolsa amarela, como se fosse um refúgio contra a indiscrição dos adultos, é bem original, não acha?
A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes, aborda problemas pré-adolescentes comparando pessoas reais e situações verídicas. Uma criança sozinha em um apartamento certamente criará amigos imaginários, histórias com bichos. Mas guardar tudo isto em uma enorme bolsa amarela, como se fosse um refúgio contra a indiscrição dos adultos, é bem original, não acha?
E que tal as histórias dos galos, Rei e
Terrível, contrapondo uma visão anti-machista com uma relação de dependência, medo. E que maravilha de família, tão
pra frente na Casa dos Consertos. Questionamentos sobre renovação em uma sociedade estratificada. Tudo isto neste pequeno texto:
Cap. 9 – Comecei a pensar
diferente - A Casa dos Consertos – Páginas de 98 a 100.
“Mas eu fiquei parada, querendo entender
melhor a gente daquela casa. Apontei o homem:
-
Ele é teu pai?
-
É. – E aí ela apresentou os três: - Meu pai, minha mãe
e meu avô.
Eles me deram um sorriso legal, e
eu cochichei pra menina:
-
Por que é que ele tá cozinhando?
Ela me olhou espantada:
-
O quê?
Perguntei ainda mais baixo:
-
Por que é que tá cozinhando e tua mãe soldando panela?
-
Porque ela hoje já cozinhou bastante e ele já consertou
uma porção de coisas; e eu também já estudei um bocado e meu avô soldou muita
panela: tava na hora de trocar tudo.
-
Por que?
-
Pra ninguém achar que tá fazendo uma coisa demais. E
pra ninguém achar também que está fazendo uma coisa menos legal do que o outro.
-
Teu avô está
estudando?
-
Tá.
-
Velho daquele jeito? (Era muito chato conversar com
ela: só eu que cochichava; ela falava normal, todo o mundo ouvia.)
-
Ele só é velho por fora. O pensamento dele tá sempre
novo.
-
Por que?
-
Porque ele tá sempre estudando. Que nem meu pai e minha
mãe.
-
Eles também estudam?
-
Aqui em casa a gente não vai parar de estudar.
-
Toda a vida?
-
Tem sempre coisa nova pra aprender.
-
E quem é que resolve o que cada um estuda?
-
Como é?
-
Quem é que resolve as coisas? Quem é o chefe?
-
Chefe?
-
É, o chefe da casa. Quem é? Teu pai ou teu avô?
-
Mas pra que que precisa chefe? (.................)
-
Não tem sempre uma porção de coisas pra resolver? Quem
é que resolve?
-
Nós quatro. Pra isso todo dia tem hora de resolver
coisa. Que nem ainda há pouco teve hora de brincar.(..............) Cada um dá
uma idéia. E fica resolvido o que a maioria acha melhor.
-
Você também pode achar?
-
Claro! Eu também moro aqui, eu também estudo, eu também
cozinho, eu também conserto. Aqui todo o mundo acha igual.
-
Mas pode ?
-
Por que é que não pode?” ......................”